junho 29, 2010

...................................... moeda erosiva






olha a dualidade
do forte salgado
moeda erosiva
desgastando efígies,
capital de risco
é chapa batida
na falésia falida
das diversidades,
é gémeo da vida
sem verso e reverso
perfil dualístico
da minha incerteza,
mas quando me enreda
com o seu olhar,
sinto que o mar se agita
com a duplicidade
dos enleios que lança,
novelos forjados
e beijos bordados
na disparidade !
poema e fotos:poetaeusou

junho 26, 2010

...................................... foi naquele tempo





a porta do tempo
do tempo perdido
é a porta certa
do tempo encontrado,
atempado tempo
da porta sem portas
no tempo passado
ás portas do mundo,
foi naquele tempo
sempre o tempo, coitado,
parado nas portas
aportando o tempo,
se o tempo é angustia
nas portas, sumida,
eu sou o espelho
do rosto do tempo
tempo de tormento
no temporal da vida
sofrendo á porta
das rugas do tempo !
poema e fotos:poetaeuso

junho 24, 2010

..................................... espero a noite






no sótão do tempo
espero o anoitecer
abrindo gavetas
de difusos armários,
nas esconsas memórias
procuro passados
cortinas corridas
escondendo fulgores,
e nos rituais
no leito dos sonhos
aconchego abraços
regaços madraços
onde me acoite,
perguntando ao breu
quantos os poemas
conjecturando dilemas
agasalha a noite !
poema e fotos:poetaeuso

junho 22, 2010

..................... no solstício por hibernar



se em mim nada ficou
não me penses,
deixa-me
com as minhas esperas,
tudo levaste, até o solstício,
onde de viés me via
na atrofia
de te agradar,
repensando
ventres sedentos
friagens de verão
nas canículas por hibernar,
debulhando
no estio invernoso
os restolhos do pudor,
penhor
das labaredas despidas
escalpelando emoções
vaga-lumes renascidos
nas cinzas da tua ausência !
poema e fotos:poetaeuso

junho 20, 2010

............................. divago atempo no tempo




bambo as escadas na corda tombada
atravessando a ponte da vida sem vida
no circo sem arena, de que me tornei,
ao alisar degraus fazendo calçadas
evito as portagens que a mim impus
na fuga em frente da estrada sem saída,
procuro as montanhas ao nível do mar
escalada sem tempo no tempo perdido
subindo e descendo á minha procura
procuras diáfanas que escondes em ti,
eu sou a via-rápida, auto-conduzida,
recta infinita, circunvalando meu ego
apenas dispersado pelas tuas recusas,
e na circunvalação da minha amargura
cravam-se espinhos de cravos espinhosos
acessos sem nexo, que alteram destinos,
onde as minhas entradas são a tua saída
desacertando conjugações por ti corrigidas,
banais desencontros que me fazem sofrer
no desencaminho que é o teu viver !
poema e fotos: poetaeuso

junho 18, 2010

........................ vesti-me de algas rochosas





no teu olhar de salitre
há malagueñas de sal
cantando de rocha em rocha
nas marés esverdeadas,
vesti-me de algas rochosas
reluzindo as minhas esperas
esboços de lapas solares
bronzeando os meus impulsos,
nos rochedos das loucuras
há estátuas beijando o mar
tramas de iodo enredadas
nos borrões por apagar
desfigurando os feitiços
nas promessas sussurradas.
poema e fotos:poetaeusou

junho 16, 2010

.................. oh vagens de orquídeas





miro na mira
focando o alvo
de alva cor,
branco chantilly
de espuma cremosa
entornando a taça
do guloso olhar,
meu gelado de verão
corriqueira baunilha
pela qual me perco,
oh, vagens benditas
das belas orquídeas
entranhando odores
nos gostos da vida,
gustações rendidas
ao palato grávido
de sabores .  .  .  a ti !
poema e fotos:poetaeusou

junho 13, 2010

........................................ vogava poemas


 


gostava de ser
um barco de pedra
rumando empedrado
nos brilhos etéreos,
na rota traçada
vogava poemas
heranças rochosas
em mim deserdadas,
e nas amuradas
das minhas emoções
lavrava memórias
do incauto presente,
suplicando ás nuvens
uma chuvada forte
que lave o vazio
nebuloso, sombrio,
que é o meu desnorte.
poema e fotos:poetaeusou

junho 11, 2010

o outro EU do meu EU (de quando em vez)






na cidade das parecenças
de ti sou bem diferente
és o que eu pareço ser
sem seres comigo parecido,
sou um beco mascarado
de palhaço feito á força
atrapalhando as ruelas
num carnaval permanente,
pelas ruas disfarçado
subtrai aparências
vi vielas de vergonha
quando olhei para ti,
se gravatas eu usasse
em alvíssimos colarinhos
intocável eu seria
na praceta das bravatas,
és a esquina da mentira
onde os ocultos fingidores
vendem-se a qualquer preço,
embuçando falinhas mansas
e com ares dissimuladores
são aquilo que eu pareço.
poema e fotos:poetaeusou

junho 09, 2010

.................................Amiga Mer, dedico-te .




a beleza que espalha
estas águas paradas
é simples botox
tapando as memórias
que o homem inundou,
foi a força bruta
amputando sonhos
como a Aldeia da Luz
a que me comparo,
recordo tuas margens
meu rio Arnóia
banhando o Éden
Retiro de mim,
lágrimas transpiradas
na flor de que fui feita
adoptando as mariposas
nos avoengos canteiros
que surripiados foram,
oh, lençol de água
rio cristalino
quem cerceou, o teu deslizar ?
quando transportavas
entre o arvoredo
a tua mansidão,
valsando, contente,
em busca da Foz !
poema e fotos:poetaeuso

junho 08, 2010

........................................ nos tombos nascidos





de degrau em degrau
espio minhas culpas
esperando o perdão
das quedas que dei,
feri as calçadas
do tempo perdido
escadas de barro
de que a vida é feita,
nos tombos nascidos
no meu caminhar
abri as memórias
do meu desespero,
confuso, trepando,
ao ponto marcado
da minha chegada
e da tua partida,
via verde . . . livre,
do meu desencontro .
poema e fotos:poetaeusou

junho 05, 2010

.................................................. ai as raizes




se eu, fosse eu,
seria uma flor
uma flor sem nome
cativa em mim,
pelas minha veias
correriam seivas
como água de um poço
fecundando a terra,
e o meu suor
de orvalho salgado
uma lágrima seria
numa folha, aninhada,
e as raízes,
ai as raízes !
da terra, amantes,
perfurariam desejos
sulcando os instantes
nas searas de beijos .
poema e fotos: poetaeusou

junho 02, 2010

..................................... o verão vou mexilhar




a convite do mar
o verão perfila-se
há ir e voltar
ao tudo o que sou,
sou a testemunha
dos ciclos do ano
as quatro estações
vivaldivando o estio,
o verão vou mexilhar
embebedando de brilhos
os raios solares transviados,
estacando madeiros de sal
no areal desenhados
como pináculos de afectos
tacteando ecos de bronze
nas torres de pano erguidas
acobertando os segredos !
poema e fotos:poetaeusou

junho 01, 2010

......................................... querendo mais e mais




solto o mar
dos meus poemas
nas marés selvagens
que me entram nos poros,
é como palavras
sílabas concertadas
versos libertados
penetrando em mim,
são doces carícias
saboreando gestos
braços alongando
meigos violinos,
no delírio profundo
desato loucuras
fonte de emoções
dos quais me alimento,
sugando o incenso
do ardor que emanas
querendo mais e mais
numa paixão crescente
que jamais findará !
poema e fotos: poetaeusou