O Mar chamou-me. manhã cedo, após o nascer do Sol.
fui ao seu encontro, percorri a marginal, mergulhando
nas maresias, odores salgados irrigados no vai e vem
das marés, vagas soltas, aspergindo os meu sentidos .
Ao longe vi um vulto. uma mulher trabalhando o peixe,
observando melhor, vi a Ana, a minha amiguinha Ana,
fez-se luz, o João, o meu grande amigo João, quer, do
outro lado da vida transmitir-me algo, quem foi o João ?
um Herói, desapareceu no Mar, esgotado, depois de ter
salvo, seis camaradas, uma grande perda em todos nós,
faz 40 anos, foi ali, bem pertinho da praia, ficou a Ana,
dois filhos menores e uma grande caminhada á sua frente.
Jornadeou sozinha e com golfadas de amor transmitiu
aos filhos e netos os valores da dignidade, do respeito,
da fraternidade, tenacidade e da valorização pessoal !
beijei a minha amiga, o seu beijo cheirava a mar, a João …
Ana vai chover, está frio, não careces assim tanto, disse-lhe,
careço sim, Zé, necessito para os meu netos, tu sabes que
a minha neta está na Faculdade, no terceiro ano, o meu neto
João entrou este ano, o dinheiro vem fazer muito jeito Zé,
no rosto da Ana, de desgostos feito, surgiu um alvo sorriso,
os seus olhos brilharam como a luz do Sol em dias radiosos,
olhar franco, constante, imutável, fitando as ondas, ondas do
Lago das Viúvas, fixem o nome, o Lago das Viúvas . . .
Recordei o João e sei que a Ana sentia-o no seu belo olhar,
Ana continua com essa força, disse-lhe, pensa nos netos,
sabes que sim, eles são “o futuro das saudades que sinto”
amiga, eles vão agradecer-te com positivas notas, acredito.
dei-lhe um beijo de despedida elogiando o seu dinamismo,
Ana, se necessitares, conta comigo, só a tua amizade, disse,
retomei a minha caminhada, de viés notei que a Ana fitava o
Mar, naquela utópica esperança de cair nos braços do João,
já um pouco afastado, num extasiar de alegria a Ana vozeou,
á Zé, não sabia que era tão fácil aprender a ser DOUTOR ,
delineei um sorriso, mirei o Mar, piscando um olho ao JOÃO !
texto - poetaeusou
fotos-alb. A. Laborinho